30.1.08

A Mistake

Vou cometer um erro
Vou cometer de propósito
Vou desperdiçar meu tempo
Porque estou cheio como um carrapato
E estou flutuando na superfície
E o que eu encontro é meu

E quando o dia se vai e eu olho para trás
E o fato é que eu me diverti, tateando ao redor.
Todo conselho que rejeitei,
e eu corri para onde eles disseram para não correr,
mas onde era certeza eu me divertir, então...
Vou botar pra foder de novo
Fazer outro percurso
Despavimentar meu caminho
E se você quer que faça sentido
Por que está olhando para mim?
Não sou bom em matemática

E quando encontro meu caminho de volta
O fato é que eu posso ficar, ou não.
Adquiri um gosto tal
Por um erro bem feito
Eu quero cometer um erro
Por que não posso cometer um erro?
Estou sempre fazendo o que acho que deveria
Quase sempre fazendo bem a todo mundo
Por quê?
Quero fazer o que é certo? Claro, mas...
Eu realmente quero sentir que sou forçado a responder a você?
Inferno, não!


fiona apple é uma das minhas cinco cantoras preferidas, mas eu a considero uma ótima (e abusada) letrista, poeta mesmo, na minha opinião.
esta música é de seu segundo albúm, "when the pawn..."

28.1.08

investigações para a impossibilidade da justiça e a fadiga intelectual terminal causada pela desilusão

Estava lento, resistindo à correnteza como um herói trágico daqueles que povoavam minha infância. Estava estalando por dentro, me procurando e me perdendo, parecia mesmo que algo estava gravemente quebrado. Era eu. Fratura exposta da vida. Eu tenho um remédio. Eu me automedico por conta própria, a conta é alta. Meus projetos inacabados já se confundem com minha própria personalidade. Eu quero salvar e me recuso a me deixar ser salvo.


20.1.08

to my favourite sullen girl

houve uma garota. ela entrou na sua vida sob
a unha e levantou-a até que ele gritasse,
enquanto docemente exalava carisma.

14.1.08

torrencial

Acelerei na rua, pois da última vez que não fugi da chuva, aprendi o que me era útil. De imediato não lembrava por que corria, mas minhas botas estavam ali, permitindo-me pisar as poças d’água com certo descuido. Estava um pouco tonto, deixara de fumar a algum tempo, mas tudo que queria era um trago.Estava como nunca quis estar: ciente da força que culmina e estraçalha. Sempre fora mais corajoso que a maioria, mas tão estúpido quanto eles. A insegurança a muito me avisava, me acenava, mas agora o charco é imenso.
Foram os gritos de umas cinco crianças brincando na chuva e uma jovem atravessando a rua correndo com seu vestido encharcado que trouxeram de volta o sentido daquela minha confusão, ah, não se tratava de uma jovem bonita, mas a cena deu a ela um certo encanto. Havia uma senhora passando tranqüilamente por mim com um bonito guarda-chuva florido. E eu ali, lembrando que nunca antes havia me permitido observar a beleza impassiva dos guardas-chuva. Estava observando tudo... e tudo passando impiedosamente sobre mim. Havia nascido ali mesmo, à uma hora exatamente. Por que me achava tão esperto? Tão ingênuo?

4.1.08

sobre como conheci júlio...

E então ele atropelava as palavras de pouco sentido para mim e para a situação e sempre, como vírgula, dizia: “sim”, “sim”, “sim”. E ao me ver perplexo, e talvez mesmo querendo isto, continuava mais aceleradamente, e tua boca ia tomando, junto com a fumaça, umas formas curiosas e eu ia me entregando sôfrega e insistentemente à bebida e o seu gesticular parecia querer me conduzir a um estado de entrega e tudo em volta acabava se parecendo demais com o que ele ia dizendo, recebendo uma tonalidade curiosa de música e cada vez mais pessoas pareciam compartilhar daquele meu transe e nada se parecia com a história do mundo e ciente do muro que tombava em mim ele foi devolvendo-me à realidade, diminuindo a velocidade e o ritmo da serpente esfumaçada que lhe saía da boca e devolvendo os tons cinza de nossa cidade (que é nenhuma), aquilo foi como um parto e senti toda a solidão e desespero dos expulsos do útero e lágrimas senti já com alguma vergonha e procurando uma saída honrosa aticei minha gastrite (ou será úlcera?) com um longo gole naquela bebida quente e o correto era eu dar-lhe um corretivo por me fazer em frangalhos na frente de tantos amigos mas apertei a mão com força na sua e falei que aquela não deixava de ser uma experiência literária única e que da próxima vez, ao menos, me auxiliasse no retorno e ele disse sim.