13.7.08

isadora

Preocupava Isadora minha delicadeza espartana, eu era direto e dócil, uma brusca busca por caminhos próprios. Ela acarinhava meus cabelos desgrenhados dizendo que poderia ser belo caso quisesse, puro se deixassem e bruto se necessário. Ela via por entre os olhos da máscara, me nudificava e me tornava elementar. Ela mesma, Isadora como eu a chamava, suplicante como ela queria, percorria todos os caminhos possíveis para se certificar dos errados. Deliciava-se com a penumbra em meu olhar quando, anestesiado por seus caridosos entorpecentes, tombava em seu colo nu e febril e não dizia nada além de “você, Isadora, cuidado com meu coração”. Tinha a força de um mantra as poucas palavras que dizia. Força maior, mais criativa e destruidora, tinha o meu silêncio e o entendimento que ele trazia. “Abaixo a verborragia”, era o nosso brinde usual antes de iniciarmos nosso ritual particular de auto destruição, música e amor. Isadora tinha meu coração entre os dedos, e nunca viver foi tão perigoso.
Era uma estrada sem mão definida, as colisões eram freqüentes e espantosas. Escorria pelas mãos mal estar, exatidão e marcas deveras definitivas. Ela era a rainha de minhas vírgulas, dispondo-as ao seu bel prazer, sem nenhuma ordem, consideração ou astúcia. Isso amava em Isadora, tua força e nobreza, só sabia o que não queria e me elogiava ao me atribuir, pelo menos isso, sentido. Não como marionete, não isso, mas como a um personagem secundário que se ama demais para se aceitar sua sina. Isadora era minha autora e por isso eu permitia, como um personagem absolutamente impotente, teu poder sobre mim.