11.10.07

sobre madrugadas e vinganças.

Continuava andando pelas ruas desertas daquela cidade de interior, a madrugada é uma boa conselheira, ou melhor, ouvinte. Era assim desde tempos remotos, perambulava pelas ruas falando baixinho o que me atordoava. A quem notava, parecia um louco, não raro percebia os risos contidos à distância. Nem me importava. Mas essa era uma das razões para preferir as madrugadas e seus segredos. As ruas desertas e seus alaúdes de melancolia desperdiçados. Júlio me dizia: “O que você tem de errado é esse teu desejo, que nem você aceita, de vingança. A vingança é preguiçosa. Sempre deixa pra amanhã o que pode fazer hoje, e dessa forma, vai corroendo a armadura de silêncio”. Sei lá onde esse jeca sem vergonha aprendeu essas coisas, mas sempre me acertava no estômago. Eu sempre o acompanhava no boteco que ficava nos arredores da cidade, perto da roça mesmo, onde os roceiros iam, pra voltar, tarde da noite, não tínhamos outra alternativa que não vir a pé. Isso nos aproximou demais. Ficávamos, naqueles passos tortos, trocando idéias sobre dores supostas e dores verdadeiras, sempre embaralhadas, para que sua saída não fosse dificultada. Ele ria quando falava do meu desejo de voltar pro Rio, quando lhe contava histórias de como eu arruinava tudo que tocava, ele ria, me dizendo algo que Duda sempre falava: “Você se acha pior do que é. E eu não sei se isso é uma virtude ou um defeito”. Eu também não sabia. Não sabia o que queria e o que devia fazer. É sempre difícil encontrar um jeito de negar algo que nos move, é sempre difícil encontrar, principalmente, algo que nos mova. Esse era realmente o problema. Aquele que sequer conseguia admitir a mim mesmo.

Um comentário:

li disse...

saia do seu belo, lindo, triste e solitário jardim!
admita tê-lo plantado, reconheça seu doce perfume,mas não se esqueça que é ele que te faz sentir dor.