28.6.08

O amor nascia de luzes apagadas, era quase dia e nada importava.

Era o herdeiro de um tesouro muito antigo. A história entranhara-se em mim. Eu era a história da cidade, aquela que todos queriam esquecer pois doía saber. Meus passos desvendavam os mistérios dos abismos insondáveis, meus olhares se lançavam para longe, para onde os olhares se escondem, minhas palavras publicavam verdades ao vento. A Cidade Sem Sol não gosta de ter seus segredos violados. E mesmo quando procurar é o antídoto contra o vazio suposto, a decepção pode ser maior que o cansaço. Do horizonte da Sombra encarnada enxergava-se apenas o vazio suposto de uma ausência de sol. O maior dos astros. E de todos os lados, as ruínas do mundo se entulhavam. A Cidade Sem Sol era, vejam bem, a última fronteira da humanidade partilhada. Mas a cidade conhecia o amor, dessas infelizes coincidências que não se pode chamar de outro nome que não ironia. Desmanchava-me aos pés de Leonora. O amor era uma herança ancestral, eu o havia herdado.
A amor acomete como uma doença faz. Entorpece, fere e acalma. Até a estranha simetria das torres, com a ousadia de dedos humanos apontando para deus, levavam-me a um grau mais incontido de entrega a Leonora. Não havia razão que regrasse, que pusesse termos, que auxiliasse no precário retorno a casa. Era sempre o lar dos sem lares, a cidade sem sol dos solares.

4 comentários:

Anônimo disse...

A amor acomete como uma doença faz. Entorpece, fere e acalma.

perfeito!

quando acalma é quando mais fere.
só que a dor fica banal.
acomodada.

lindo texto.
tão pronfundo.

moriarty disse...

Não adianta, o amor sempre existe e persiste. E mata.
Sempre.

o.O disse...

aqui, me acho. perco, e me perco.

Anônimo disse...

a muito não te lia...
acabo de ler seus 4 últimos e, ao contrário de outras, vejo dor e tristeza, adorei também a intensidade deles.