14.5.08

Eu semeio utopias num mundo desesperado
Meu coração tem ficado cheio como um navio náufrago
Desesperados acenos e a incerteza da salvação
Nem mesmo posso supor se as pequenas sementes de utopia
Florescerão e vingarão essa sede de qualquer beleza humana
Epístolas de sentimentos nobres e já gastos de guardados

Eu semeio utopias em um mundo bastante desesperado
Bastante desesperança
Desesperador
Algo em mim parece desaparecer no final da tarde
Preciso me recompor
Preciso me recompor
E todos os aguardados símbolos emergem como bolhas do fundo do mar
Mal piscam e desaparecem
E nem os anos, talvez, poderão dizer se algo contou de importante
Em todas aquelas bóias lançadas aos sobreviventes
É fato conhecido: o navio hora afunda

O semear não pode ser automático. É um erro.
O semear não pode ser automático, uma vez que ser um é, essencialmente,
Negar o outro, automático não pode ser o semear
O tempo passa diferente. Antes mesmo de sabotarmos nossa capacidade de
Ter nosso próprio tempo em troca de um punhado de excessos recém convertidos
À condição de necessidades
E as sementes talvez nunca reivindiquem a condição de herdeiras
Uma vez que a herança pode não ter valor em um mundo que tem preço
E talvez nem um bocado de fé possa fazer bem

Eu semeio utopias num mundo fudido
E talvez seja mesmo culpa minha insistir em continuar
Essa utopia semeada meio em vão é a única coisa que me deixa dormir à noite,
Diante de tantos fantasmas reais que rondam a vida de qualquer um em qualquer
Instante da vida por que exatamente isto caracteriza viver.
Estar exposto à vida. À tudo que tem na vida. Principalmente em um mundo como
O nosso

E na medida em que tudo em volta parece acomodar-se muito bem na realidade
Me preocupo cada vez mais com minha própria condição
Sou forte e teimoso demais pra me entregar, mesmo que seja na iminência da derrota
Eu continuo semeando utopias numa terra desesperada
E enquanto tudo em volta parece ruir
Me esforço para ser um ponto onde se possa segurar
Sei que não desintegrarei
Por que só existe a possibilidade do florescimento
Enquanto se insistir em semear

2 comentários:

Ana M disse...

sabe que eu não entendi esse texto? quero dizer, entendi o que vc disse, mas não entendi o que o texto é. parece uma espécie de manifesto.
talvez eu tenha é que parar de achar que tudo o que a gente escreve tem que ser alguma coisa categorizável e que possa ser colocado dentro de uma pasta com divisórias. a vida não é assim, né?
tô escrevendo tua carta. acho vai ser pequena pq quero mandar logo, pra ouvir tuas respostas logo.
tô desarticulada hj; acho não me faço entender...
bisou

Anônimo disse...

entaão o ar fica rarefeito quando escurece?

é difícil acreditar nas utopias quando não se enxerga porra nenhuma.

mas eu acredito que vc já enxerga até demais...

saudade de vc por aqui!
que bom que voltou!
e voltou com toda!