26.2.08

o que doia ficava sempre escondido

Parada na minha frente, um pouco mais transparente que antes, vejo tudo que passou. Cores aberrantes disfarçadas num cuidado em suas palavras não obscurecem seu humor novo. Está melhor que nunca, mas agora de nada adianta ter me alcançado neste meu repouso de ermitão, não acredito mais no convívio apaziguador de exércitos estrangeiros e, a propósito, nem em você. Muito menos em você, nisso continuo como um bebê num berço: o que me escapa aos olhos não existe mais.

Pus sal na ferida, quebrei meu ninho e pintei tudo de negro, agora, por favor, não disfarce cores aberrantes, os tons de vermelho já brilham sem minha permissão. A minha rouquidão é muito mais limpa e clara que água nascente de rio transbordando ódio e calma. Rejeito, aliás, como sempre, os louros de honra ao mérito, entrego-os aos loucos e mendigos no caminho. Nossa! Estão em todos os lugares. Conheço tudo ao seu respeito, não disfarce cores aberrantes: arco-íris mesquinhos também povoaram os meus sonhos secretos.

Não me venha dizer, ainda com um restinho de monóxido de carbono e outras não-sei-quantas-mil-substâncias-tóxicas saindo pela boca, que conhece bem os homens. Traumas familiares e teorias freudianas são proibidos de entrar aqui. Aponto o peito, outrora bateria de escola de samba ao ver-te; “treinado agora”, digo. Forçando os tons pasteis e seu caminho nostálgico ao que éramos, você dirige seus dedos longos e precisos à minha têmpora macia mas tensa. “Você é só um menino”. Esmurro a mesa com a sentença de um juiz terrível: “Isto é tudo”.

2 comentários:

Anônimo disse...

a frase é triste mesmo.
principalmente se vem acompanhada daquele olhar de "nãomevenha"

e o cigarro e as substâncias tóxicas e as palavras... tudo isso sai da boca.
e tudo é tóxico.
e tudo tanto faz.

teu ódio é bonito.

Ana M disse...

olha, honey, nem queria dizer, mas não resisti: teu título tá pra lá de coisa de herr doktor... te escrevi uma carta; chega logo, assim que a preguiça de ir ao correio ceder.
bisouca