2.11.06

Manifesto de auto-depreciação III

O muro de pé e eu caido. A visão, opressora, assusta, mas: "sua chance de reconstruir-se". A chance, sim, trabalhemos com possibilidades agora. Não, não posso cair na tentação de sistematizar, teorizar, formular teses. Merda, está começando de novo. "Chance": prenda-se a esta palavra, sim, chance, tem uma chance. A minha chance. Esqueça o verbo reconstruir, que é derivado de construir e lembra o muro. Lembre-se de chance. Não soa muito bem mas lembra chave. Nem sei de que tenho chance, nem quero saber, quero esquecer, quero a chance. Pego-a pelo braço, forço um beijo, ela cede, tenho sede, quero mais, mais que isso, posiciono-me na sua frente, não deixo escapar, aperto-a, machuco-a, levanto sua saia rápido, sem jeito ou respeito, violentamente, choro, pareço querer voltar de onde vim, não paro nem quando me enojo de mim mesmo, é minha chance, faço o que nem sei se quero, me emporcalho, muito perto da natureza humana, reviro-a, de um lado, de outro, já não resiste, mas ainda está distante, retomo o ritmo, entorno a vida, agora sim ela me marca sem resistir, minhas costas retalhadas, peço para que ponha sal, vinagre, pimenta, qualquer coisa que doa mais do que posso suportar, a responsabilidade é minha, quero isto para sempre, choro como se lembrasse da coisa mais inconsciente da minha primeira meia vida, choro até não ter o que sair, vomito depois, urino e defeco, tudo sai de mim, eu saio de mim, choro como se tivesse visto, enfim, o monstro do armário, que eventualmente se escondia debaixo da cama, era eu que me assustava, o pavor de ser o adulto que me formei, e todos os outros caminhos me foram negados e eis-me aqui, violentando minha (minha) chance por ter chegado tão tarde, AAAAAHHHHHH, me engasgo com meu grito, com meu vômito, lágrimas, mijo, merda e todo o resto, sangue ainda não, até por que não mais, estou exangue, não tenho uma gota, escorreu tudo pelos pulsos, encheu meu banheiro, sujou meus tornozelos e depois, cansaço imenso, minha bunda, costas, cabeça, braços, tudo... consciente... inconsciente. Chance, sim, não esqueça dela, tá na hora dela ter mais, não igual, pior,

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