1.8.08

de certa forma ela adivinhava como agir comigo; calma, transparência e o melhor de tudo, inexatidão. ia retirando suavemente camadas e camadas de passados remotos, exatamente como restauradora de imagens antigas. e daí se o que fosse perdido fosse para sempre? tinha-a alí, debruçada sobre mim, calculando sem cuidado equações imaginárias, sorvendo sofregamente meus juizos secretos e impróprios, limitando o alcance da razão, pondo fogo em minhas têmporas e em meu peito. deslizando lentamente seu mel em doses diárias, rejeitando minhas virtudes atrasadas, querendo apenas aquele riso fugido, sem ordem. meu sono precário a embalava, turbante de silêncios coloridos, e saber não se sabia quem era o último a ceder.
a grama verde substituiu o chão de vidros picados, o céu de chumbo abriu-se em suaves marteladas.

4 comentários:

Anônimo disse...

Que bom se ficasse assim esternamente. Claro que sempre tem um caquinho de vidro perdido na grama, né? Ultra-comum. A gente se corta, mas sara rapidinho.

"debruçada sobre mim, calculando sem cuidado equações imaginárias, sorvendo sofregamente meus juizos secretos e impróprios, limitando o alcance da razão, pondo fogo em minhas têmporas e em meu peito. deslizando lentamente seu mel em doses diárias, rejeitando minhas virtudes atrasadas, querendo apenas aquele riso fugido, sem ordem": te desejo muito disso, e todo dia.

abraço.

ah, tomei a liberdade de te linkar. Assim fica mais fácil te ler.

Ana M disse...

já tinha lido; vim reler. deus, gostei de tudo. te escrevo melhor. agora mesmo. bisou. ana.

Angela disse...

Lindo Thiago!
Que imagens! que sejam palavras vividas! um beijo.

Anônimo disse...

cotidianos avassaladores.

incrível como simples coisas ficam gigantes com a paixão.

lindo.