27.5.08

eu pretendi me proteger o tempo todo.
tu fez minha cabeça mas despedaçou meu coração.
quantas vezes te pedi para ter cuidado com o que tinha entre os dedos.
nunca seria uma jóia, seria sempre meu coração.
sempre tive medo de quando percebesse o quanto pensava em você com o meu coração. sempre souberam o quão tolo eu sempre fui.
mas em minha cabeça o certo se configurava, era um processo difícil.
estava muito ocupado tentando continuar a tentar entender o mundo.
tinha de conhecê-lo bem quanto pudesse. tentando continuar vivo pra você.
as recompensas não caberiam em lembranças.
você ia deixando de gostar de mim à medida que eu melhorava.
não podia entender aquilo.
e as mãos sempre dadas começaram a se esfriar com a distância vislumbrada.
sempre soube que tudo que eu fazia era por você.
nada existia para além dos limites seus.

14.5.08

Eu semeio utopias num mundo desesperado
Meu coração tem ficado cheio como um navio náufrago
Desesperados acenos e a incerteza da salvação
Nem mesmo posso supor se as pequenas sementes de utopia
Florescerão e vingarão essa sede de qualquer beleza humana
Epístolas de sentimentos nobres e já gastos de guardados

Eu semeio utopias em um mundo bastante desesperado
Bastante desesperança
Desesperador
Algo em mim parece desaparecer no final da tarde
Preciso me recompor
Preciso me recompor
E todos os aguardados símbolos emergem como bolhas do fundo do mar
Mal piscam e desaparecem
E nem os anos, talvez, poderão dizer se algo contou de importante
Em todas aquelas bóias lançadas aos sobreviventes
É fato conhecido: o navio hora afunda

O semear não pode ser automático. É um erro.
O semear não pode ser automático, uma vez que ser um é, essencialmente,
Negar o outro, automático não pode ser o semear
O tempo passa diferente. Antes mesmo de sabotarmos nossa capacidade de
Ter nosso próprio tempo em troca de um punhado de excessos recém convertidos
À condição de necessidades
E as sementes talvez nunca reivindiquem a condição de herdeiras
Uma vez que a herança pode não ter valor em um mundo que tem preço
E talvez nem um bocado de fé possa fazer bem

Eu semeio utopias num mundo fudido
E talvez seja mesmo culpa minha insistir em continuar
Essa utopia semeada meio em vão é a única coisa que me deixa dormir à noite,
Diante de tantos fantasmas reais que rondam a vida de qualquer um em qualquer
Instante da vida por que exatamente isto caracteriza viver.
Estar exposto à vida. À tudo que tem na vida. Principalmente em um mundo como
O nosso

E na medida em que tudo em volta parece acomodar-se muito bem na realidade
Me preocupo cada vez mais com minha própria condição
Sou forte e teimoso demais pra me entregar, mesmo que seja na iminência da derrota
Eu continuo semeando utopias numa terra desesperada
E enquanto tudo em volta parece ruir
Me esforço para ser um ponto onde se possa segurar
Sei que não desintegrarei
Por que só existe a possibilidade do florescimento
Enquanto se insistir em semear