19.11.06

não tenho tempo para ser eu mesmo, e sou o idiota que mais quer sê-lo.
cansado de tudo que usei para viver, para sair do limbo que minha vida
profissional jogou-me.
minha falta de jeito seria grave se eu não tentasse tanto ser eu mesmo.
e os bocados de maldições a que estou sujeito não hão de mudar este quadro.

amanhecer nas montanhas

não tenho tempo para ser eu mesmo, corro por atalhos que aumentam a distância.
reflito ser meu próprio virús, minha discrepância.
minhas atitudes ferem meu ego. queria ser simplório mas sei que sou narcisista.
tenho complexas paixões existênciais que talvez nem chegarei perto de realizar.
tenho medo do amor e domestico meus demônios interiores.
procuro um motivo para justificar minha falta de sentido, a desordem dos meus átomos.
renego deus e odeio o materialismo, me confundo com drogas e igrejas.
sou duro e irredutível, tenho pena de minhas opiniões.
firo minhas mãos com raiva, sou o pior no que faço melhor(eu sei).
esta é minha última saída.

16.11.06

pacto autobiográfico explícito

nunca adiantaram muito estas tentativas.
disfarçar frustrações, controlar ímpetos...
desrespeitei meu limite uma vez, foi o suficiente para hoje
não saber viver em nenhum outro lugar.
deito toda noite em paradoxos,
me visto com contratempos diariamente,
meus óculos cuidam de me mostrar o ímpar.
calço, como a uma sandália de vidros picados, a tênue história de tudo.
desrespeito o impróprio movimento das paixões compartilhadas.
compartilho, isso mesmo, o cuidado em ser mal compreendido
tenho um pouco de tudo isso e isso de nada, tampouco posso,
nobremente, impulsionar trajetórias e narrativas.
talvez nada me salve deste irresponsável e duradouro
e vertiginoso niilismo.
isso é ontológico e absurdamente existencial.
contornar trilhos incontornáveis, desviar rotas indesviáveis.
pôr fogo, pôr pra fuder tudo que valha a pena.
preciso perder tudo que ganhei: este é o preço de voltar a ganhar.
nunca pensei que escreveria isso.

13.11.06

duas incidências

sobretudo é imprevisível
o por quê de tornar-se
tão necessário.

se não evita-se luz na sombra
e se há os honestos e desonestos
por que falar em acaso?

chamo duas incidências pois
não acredito (nem gosto, gramaticalmente
falando) [em] coincidência.

prefiro complicar, já que não entendo
e, fodam-se todos, gosto assim.
essa é minha explicação (sic!) prá ti em mim.

você já tentou varrer a areia da praia?

é esta simetria caótica que vem regrando minha vida que está pertumbando-me, trazendo para minha cabeça esta revolução com todos os ingredientes e inconveniências.
é este marasmo de acontecimentos violentos e velozes que me está tirando o senso e sensibilidade, minha realidade de sentidos e sentimentos.
é esta prova de coragem covarde que venho identificando com o passar dos dias diante do meu nariz que vem tornando-me imediatista e egoísta.
este porto nunca ofereceu segurança, senão a minha debilidade, e agora não é mais seguro, nem calmo ou sereno (aliás, nunca foi).
tenho pouco tempo pra agir mas muito tempo pra pensar. estou parecendo um cachorro correndo atrás do próprio rabo. sem prender-se no que há de "importante".
talvez a fuga seja a prova de coragem e auto-estima que tanto espero de mim mesmo. talvez não compreender e não escutar seja o que preciso agora. desorganizar o que estava à salvo à um segundo atrás.

11.11.06

argumentos

cheio de argumentos para explicar o fracasso
o tolo olha em volta. de um lado o esforço
patético de se manter distante do amor,
mais a frente sinais incontidos de cansaço,
um pouco mais a esquerda o paradoxo de não
querer e querer tanto e até acima, vejam
bem, a insegurança que como cal lhe queima
a carne. com trejeitos próprios da incerteza
ele se move - se moveria até se estivesse
morrendo -, ele coça os olhos, como se não
mais quisesse ver algo ou como se alguma
coisa quisesse enfim ver.

- sou um sábio, como podem querer que eu
tenha respostas?
disse finalmente assumindo sua condição
de tolo.

9.11.06

a necesssidade de ser eu mesmo.

esta mania imprecisa de amenizar dores talvez seja o que você não gosta em mim, não sei, ou talvez seja essa minha tendência de incendiar estrelas o que te incomode.
sou um lapso de memória, meus atos encontram sentimentos no caminho, e lá, bem no meio, de repente, estou inundado. acho que devo lutar contra isto: a preocupação de ser o que não sou. aí reside meu pecado, meu orgulho: a necessidade de ser eu mesmo.

8.11.06

waking life II

random guy

à medida que a complexidade aumenta, deixar-se levar não é o bastante.

waking life I

senhor debord: o que faltava, parecia irresgatável. A extrema incerteza da subsistência sem o trabalho fez dos excessos uma necessidade e as rupturas foram definitivas. para citar stevenson: "o suicídio levou muitos. a bebida e o demônio cuidaram do resto".

7.11.06

O que quero agora?

a fumaça de meu cigarro, a distância de teus passos e um bife mal passado.

6.11.06

fast as you can

não tenho pressa
tenho febre.

eu

sou um emaranhado de coisas complexas que não se explicam.

2.11.06

Manifesto de auto-depreciação III

O muro de pé e eu caido. A visão, opressora, assusta, mas: "sua chance de reconstruir-se". A chance, sim, trabalhemos com possibilidades agora. Não, não posso cair na tentação de sistematizar, teorizar, formular teses. Merda, está começando de novo. "Chance": prenda-se a esta palavra, sim, chance, tem uma chance. A minha chance. Esqueça o verbo reconstruir, que é derivado de construir e lembra o muro. Lembre-se de chance. Não soa muito bem mas lembra chave. Nem sei de que tenho chance, nem quero saber, quero esquecer, quero a chance. Pego-a pelo braço, forço um beijo, ela cede, tenho sede, quero mais, mais que isso, posiciono-me na sua frente, não deixo escapar, aperto-a, machuco-a, levanto sua saia rápido, sem jeito ou respeito, violentamente, choro, pareço querer voltar de onde vim, não paro nem quando me enojo de mim mesmo, é minha chance, faço o que nem sei se quero, me emporcalho, muito perto da natureza humana, reviro-a, de um lado, de outro, já não resiste, mas ainda está distante, retomo o ritmo, entorno a vida, agora sim ela me marca sem resistir, minhas costas retalhadas, peço para que ponha sal, vinagre, pimenta, qualquer coisa que doa mais do que posso suportar, a responsabilidade é minha, quero isto para sempre, choro como se lembrasse da coisa mais inconsciente da minha primeira meia vida, choro até não ter o que sair, vomito depois, urino e defeco, tudo sai de mim, eu saio de mim, choro como se tivesse visto, enfim, o monstro do armário, que eventualmente se escondia debaixo da cama, era eu que me assustava, o pavor de ser o adulto que me formei, e todos os outros caminhos me foram negados e eis-me aqui, violentando minha (minha) chance por ter chegado tão tarde, AAAAAHHHHHH, me engasgo com meu grito, com meu vômito, lágrimas, mijo, merda e todo o resto, sangue ainda não, até por que não mais, estou exangue, não tenho uma gota, escorreu tudo pelos pulsos, encheu meu banheiro, sujou meus tornozelos e depois, cansaço imenso, minha bunda, costas, cabeça, braços, tudo... consciente... inconsciente. Chance, sim, não esqueça dela, tá na hora dela ter mais, não igual, pior,

1.11.06

Manifesto de auto-depreciação II

Quem estava alí, desmoronando, agora, era eu. "Sua chance de reconstruir-se", a única coisa que ouvi. Meia vida depois percebi: esta foi a única coisa que ouvi. Estivera surdo? louco? Não é posível esta ser a única coisa que ouvi em meia vida. Me achava tão esperto, tão ingênuo. Tudo apagado. Agora: "sua chance de reconstruir-se". Lembraria disto, sem dúvida, mas, e de todo o resto? As sensações até ficavam, rostos, até momentos, alguns. Palavras, nenhuma. Nem uma. Sei que tinha um livro, uma tese e que, ah sim, vozes. Ouvia vozes e fazia teses, era isso. Era isso que eu era, uma sobra de pensamentos. Obscureceram-me, deixei que isto acontecesse. Como alguém poderia entender? E era exatamente isso que mais doia. Ninguém, e se eu escrevesse ninguém seis bilhões de vezes estaria sendo exato, entendia.

Manifesto de auto-depreciação I

Havia demorado meia vida construindo aquele muro de contenção. Conter a natureza humana transbordante. Meia vida envolto a cálculos, réguas, trenas e materiais de toda espécie. Meia vida entregue a uma tarefa extenuante, suor e lágrimas, sacrifícios de toda espécie. Destruindo todo o resto em volta pela obsessiva vontade de pôr fim à empreitada. Meia vida. Sobrou muito pouco de tudo. Sobrou muito pouco. Aqueles anos dedicados aos estudos: peso morto. Os dois únicos relacionamentos que tive agora me machucam os pés quando ando sobre suas ruinas. Nem rancor sobrou e isto incomoda. A matéria orgânica putrefada daquele muro coloriu-se com a resignação. Forte o muro. A maré irrompe violentamente toda noite contra ele e eu, estagnado, não sei por quem torcer. A corda esticada um dia arrebenta e, segundo dizem, no lado mais fraco. A natureza humana transbordante não dá treguas, os armitícios são sempre fictícios, são sempre um embuste, sempre uma armadilha, uma arma.